Opção ou castigo?


Há coisas que você simplesmente sai fazendo, como se o universo tivesse determinado que assim fosse. Há outras, porém, que você acaba por fazer porque é o que tem pra hoje. Foi assim que eu me tornei goleiro. Pelo menos era o que eu achava.

Cresci num tempo em que as crianças podiam brincar na rua. De início, brincava com as crianças menores. Passávamos as tardes entre brincar pega-pega, caçador (queimada), esconde-esconde. Mas conforme fui crescendo, meio que em nome da socialização, comecei a me juntar à turma mais velha e a me aventurar nas partidinhas de rua e a outras brincadeiras relacionadas ao futebol.

Logo de início, soube que o futebol não seria o meu esporte. Primeiro, porque me faltava aquele ‘tchan’, aquela habilidade, sabe? Segundo, porque sempre tive descoordenação motora. Mas vocês acham que eu desisti? Não mesmo. Se faltava habilidade com a bola nos pés, talvez fosse o caso de tentar usar as mãos. Foi o que eu fiz, mas não por escolha. 

Não lembro quando foi a primeira vez que fui pra meta, mas, provavelmente foi após os times serem escolhidos e a única vaga disponível era no gol. Eu não sabia, mas ali começava uma saga que durou décadas nessa que talvez seja a posição mais injusta do futebol. Posição, aliás, que mais tarde descobri ter sido a que meu avô defendeu durante os anos de juventude. Ou seja, o que eu achava  ser acaso, talvez tenha sido herança.

Há quem possa dizer “Poxa, mas o goleiro passa o jogo todo parado”, isso é verdade. Passa o jogo parado, mas em estado de atenção constante. Qualquer segundo de bobeira pode resultar em um desastre. Ou seja, a glória e o fracasso caminham de mãos dadas. Diferente de um atacante, que após passar o jogo todo apagado, com apenas um chute, pode ir de peso morto a herói, o goleiro pode fazer milagres durante boa parte da partida e, em um escorregão, uma escolha errada de posicionamento ou um simples descuido, ir de santo a vilão. 

Foram anos e anos de alegrias e infortúnios, defesas que me impressionaram e frangos que ainda hoje me deixam desconcertado. Uma trajetória regular, de um um goleiro não mais do que esforçado. Partidas e mais partidas que me renderam risadas, piadas e até uma cirurgia, mas, acima de tudo histórias. O que, para mim, é o que realmente importa.

Então, hoje, no dia dedicado aos goleiros, deixo minha homenagem a todos aqueles e aquelas que por falta de opção ou de juízo, resolveram ocupar a posição mais solitária no jogo.

Vô, preferia ter herdado um lote. 

Junior Gros

Comentários

Postagens mais visitadas