Nada como um round após o outro
Vamos um ao encontro do outro. Nossos olhares se cruzam, as respirações alteradas, mesmo que seja o início, nossos corpos já estão suados. Nos estudamos por um tempo, até que tomo a iniciativa.
Golpeio confiante, uma duas vezes. O contragolpe vem e me esquivo, mesmo sem querer, recuo. Estou contra as cordas.
Estar acuado não é bom, mas não é algo novo pra mim. Ceder terreno é do jogo e às vezes é o único caminho.
Vacilo por um instante e sou surpreendi. O golpe entra limpo, em cheio na lateral do queixo. Na lona mais uma vez. As coisas entram em foco novamente, respiro por um instante e levanto.
Certa vez, alguém me disse que acha admirável que eu seguisse, mesmo com os resultados nem sempre sendo positivo. Respondi que estou nisso não pelo resultado, mas porque gosto de estar ali, das sensações, da troca do desafio.
Para ganhar tempo, procuro o clinche, meu mundo ainda está balançando. O oponente tenta se desenvencilhar, resisto. O gongo toca.
Vou pro meu canto, tento respirar fundo. Minha treinadora pergunta como me sinto e diz que preciso me movimentar mais, golpear mais. Tenho a força e a técnica, só preciso colocar em prática.
A disputa recomeça e busco mais uma vez um ataque. Avanço golpeando, até ser surpreendido novamente. Cá estou eu no chão de novo. Alvo fácil pro mesmo golpe.
Desta vez, com um pouco menos ímpeto, levanto, a contagem foi a oito. O árbitro pergunta se quero prosseguir, respondo que sim.
Caminho em direção ao centro do ringue e tento novamente. Em um novo clinche, meu adversário diz que está surpreso com a minha insistência em continuar.
Após tanto tempo nisso, cair e levantar parecem movimentos naturais. Pensar apenas no resultado nunca foi o meu jeito de fazer isso. Vencendo ou não, sempre entreguei tudo de mim ali.
Respondo que não vejo problema em desistir, mas, pra mim, só termina se eu apagar ou o gongo soar.
Junior Gros
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