Stand by me
Entrou na sala apressado,
revirou gavetas, potes, caixas. Foi até a estante, parou, olhou por
alguns minutos. Passou o dedo pelas lombadas dos livros. Nada. Não
estava lá.
Saiu para a rua, caminhou por
entre as pessoas olhando para um lado e para outro, encarando as
pessoas. Olhou vitrines, outdoors, sentou-se na praça, ficou
observando os pombos comendo e as folhas dançando com o vento. Tudo
em vão. Voltou para casa.
Tomou um banho demorado, comeu
alguma coisa, encheu uma enorme caneca de café e sentou-se diante do
computador. Pesquisou, leu, tentou refazer caminhos para ver se não
havia deixado para trás, mas continuava sem achar. Tinha que estar
lá em algum lugar. Onde? Deitou-se na cama angustiado pela dúvida.
Rolou para um lado, para o outro e, quando achava finalmente ter
encontrado, sem mais nem menos, foi nocauteado pelo sono.
Diferente da maioria dos dias, acordou antes do despertador. Colocou na conta da dúvida. Com quem tomou o café da manhã, embalado pelo som do ponteiro do relógio que, tal qual o coração do conto do Poe, não o deixava esquecer que o tempo estava se esgotando.
Diferente da maioria dos dias, acordou antes do despertador. Colocou na conta da dúvida. Com quem tomou o café da manhã, embalado pelo som do ponteiro do relógio que, tal qual o coração do conto do Poe, não o deixava esquecer que o tempo estava se esgotando.
Foi até o banheiro, escovou os
dentes. Sentou-se no vaso atendendo ao chamado da natureza. Fechou os
olhos, respirou fundo, teve a sensação que aquele era o primeiro
momento de sossego em muito tempo.
Ao abrir os olhos, contemplou-a
bela e formosa a encará-lo, como se estivesse ali há muito tempo
esperando por ele. Sabia que não poderia perder tempo, precisava
agir, conversou com ela, não podia deixá-la partir. Arrependeu-se
do costume de não levar o telefone para o banheiro.
Saiu apressado do banheiro,
pegou a primeira caneta que encontrou e desenhou com traços e
palavras em um embrulho de pão, tal qual viera ao mundo sua tão
aguardada ideia.
Junior Gros
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