O intruso


Já há algum tempo vivia sozinho na casa que pertencera a seus pais. Lugar onde cresceu e para o qual voltou após a morte do pai. Não saía para a rua e a única visita que recebia era do jardineiro, que aparecia uma vez por mês e do entregador da mercearia, que aparecia quinzenalmente para trazer mantimentos e receber.
Rotina que se manteve até aquela tarde ensolarada, em que após pegar a correspondência (o carteiro aparecia de vez em quando), no caminho entre o portão e a casa, viu de longe alguém sentado debaixo de uma das árvores do jardim, aparentemente cochilando. De longe, não conseguia identificar quem era. O sol deixava sua vista embaçada, mas via o suficiente para saber que havia uma pessoa lá.
Foi até a pilha de galhos que havia sido deixada pelo jardineiro, apanhou um pedaço de pau e, cuidadosamente, andou na direção da árvore sob a qual o estranho dormia. Ao se aproximar, deparou-se com a figura de um rapazote gorducho, cercado por caroços de frutas. Era estranho, embora não soubesse de quem se tratava, aquele rosto não lhe era estranho, tinha a certeza de já tê-lo visto antes.
Tomado de dúvida e medo, bateu com o porrete na sola do tênis do dorminhoco. Este acordou preguiçosamente, bocejou e o cumprimentou como se já o conhecesse. Ainda mais intrigado, olhou para o estranho e perguntou quem ele era e o que fazia ali. Com o mesmo ar debochado,  ele o encarou e disse que aquilo não o espantava, afinal, após tanto tempo, não era de se admirar que não lembrasse de como era aos quatorze anos.

Junior Gros

Comentários

Vanessa F. disse…
Belo texto sobre o tempo e suas artimanhas...
:-)
Camila disse…
hum.... surreal O_O

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