O quadro na parede, o rosto no espelho, o mundo pela janela

Sai da toca nesses últimos dias, fui além dos limites do meu quintal, foi bom ver pessoas diferentes, respirar ar contaminado de oxigênio. Nesse tempo, além de ter contato com pessoas limpas, pude também parar um pouco, pensar e, com isso esvaziar algumas gavetas, repensar alguns atos, meus e de terceiros. Enquanto limpava meu arquivo morto, percebi que muito ouvi, muito questionei, muito falei, mas creio não ter dito tudo o que deveria, salvei vidas, apontei caminhos reatei laços, ajudei vidas a seguirem; então que encontrei o erro, me satisfiz em encaminhar vidas, mas a minha ficou onde esteve sempre e permanece até agora.
Então foi que intrigado me perguntei o porquê disso, e ao contrário do que eu imaginava a resposta não tardou a surgir, é simples isso vem acontecendo porque minha curiosidade pelo mundo canalizou-se em procurar respostas, mas não para as minhas próprias dúvidas e sim para as alheias, por isso eu não defini meus rumos, não tive objetivos, meus sonhos eram espelhos dos sonhos alheios.
Há quem diga que ser um sonhador é algo ruim, pois se deve ter os pés no chão, em partes eu até concordo, porém, para que serve uma vida se você não tem objetivos? toda guerra embora torpe tem uma razão, e assim devem ser nossas vidas, ter algo pelo que lutar, um motivo para levantarmos de nossas camas todos os dias, creio até que deveríamos sempre almejar o impossível, para que nunca perdêssemos o animo para seguir.
Seguindo adiante para ilustrar o que vinha dizendo, vou abrir aqui um adendo para que possa fazer um pouco mais de sentido.
(...) Eis que em um subúrbio qualquer, de uma cidade qualquer vivia um homem de já avançada idade, morava em um quarto sozinho, um dia ele levantou da cama e por um motivo qualquer foi até a escrivaninha abriu uma gaveta e lá encontrou um espelho, ao deparar-se com seu reflexo sentiu como que um golpe em seu estomago, não acreditou no que viu, levantou-se ascendeu a luz e olhou fixamente para um retrato na parede, o que o deixou ainda mais abalado, não conseguia acreditar que sem perceber o rapaz forte cheio de vida do retrato havia se transformado naquele rosto enrugado e castigado pelos anos, então jogou sobre a mesa o retrato e o espelho, foi até a janela para respirar, foi então que olhou para o mundo que o cercava e viu que era tudo real, ele havia perdido sua vida esperando que sua vida o encontrasse.
A vida é algo constante e precioso para que fiquemos amarrados ao ontem ou embalados pelos ventos de amanhã, as gavetas contam apenas histórias, escrevamos hoje o que iremos contar amanhã. O importante apenas é não criarmos expectativas, nem nos iludirmos, para que não mintamos a nós mesmos, para que não acabarmos sentados em uma sala sonhando com a liberdade tendo a porta aberta a nossas costas, ou nos depararmos com um retrato na parede com lembranças do que um dia fomos.

Junior Gros.

Comentários

Márcia Luz disse…
Ótimo texto. Terminei a leitura sentindo um certo medo...
Kari disse…
Um comentário tardio, embora tenha lido seu texto apenas algumas horas depois de ter sido postado. Concordo plenamente com o quesito hoje, agora, viver cada dia de maneira única. Viver na amplitude do momento atual sem se ater a detalhes passados ou firmar pensamentos futuros que nem sequer sabemos se realmente existirão.
Mais uma vez está de parabéns doidinho! Bjokas
Rosamaria disse…
Esses últimos dias me deparei com um pensamento estranho, passado e mais passado. Em certos arrependimentos....

Mas se arrependimento matasse, acredito que todos nós estaríamos mortos. Mas como não mata, temos a chance de nos arrepender e mudarmos o passado; através dele, fazendo que os nossos erros não se repitam, te tal forma que o que passou, passou... sem rancores...sem mágoas.....

Júnior, parabéns pelo texto, pelo blog, por você...

Carpe Diem!!
Bjus

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